24 de março de 2012

Só um monte de bosta...




por Lucas Fernandes.

Somos seres frágeis. Dotados de sentimentos complexos e de uma mente que nem sempre é ouvida pelo corpo. Humanos. Animais e Racionais. Pois muito bem... Superiores? 
 Perecemos muitas vezes diante da mais simples bactéria. Morremos com uma facilidade impressionante. Somos os únicos seres dotados da capacidade mórbida de autodestruição. Como se não bastasse destruirmos uns aos outros, nós colocamos em cheque nosso tão valioso planeta. Escravizamos espécies. Devastamos florestas. Julgamos o que merece e o que não merece viver. Designamos um deus, de nossa mesma aparência e "benevolência". Passamos por cima dos nossos próprios conceitos de ética e de dignidade. Praticamente parasitas em um mundo que só nos favorece.
 Pode parecer uma estupidez sem tamanho, mas só o que eu posso expressar nesse momento é vergonha. Um sentimento de culpa e de inferioridade. A capacidade de nos amar e nos respeitar estão sendo levada por uma coisa chamada ganância. Tenho acompanhado uma série de feitos tecnológicos e grandes avanços científicos. Descobertas realmente impressionantes. Mas já faz muito tempo que não sinto orgulho de ser um humano. Não pensem, por favor, que estou me excluindo dessa massa que tanto me decepciona. Eu faço parte dela. Sinto a hipocrisia até mesmo nestas palavras. A hipocrisia de uma espécie que se julga superior. Seres evoluídos que alcançaram o topo do mundo. Acredito que em breve poderemos inclusive nos julgar proprietários de planetas já povoados por seres infinitamente inferiores a nós, que certamente necessitam urgentemente de nossa "divina benevolência".
 Chega de desperdiçar palavras bonitas com esse texto falho! Sei que jamais atingirei sequer um décimo de meu objetivo... Mas, mesmo assim, hoje eu preciso escrever. Simplesmente preciso contar para algum ser da minha mesma insuperável raça o que me aflige. Necessito deste espaço ilusório que se disponibiliza a aceitar essas palavras ineficazes. São como ferroadas de milhares de abelhas na bunda de um defunto. Abelhas que ferroam e morrem debilmente sem sequer perceber que jazia ali sua tão odiada vítima. Só sei que preciso simplesmente escrever. Até que os meus dedos adquiram o formato destas letras fúteis. Escrever até que o sono, que perambula neste momento por algum labirinto, venha me buscar. 
 No rosto as evidencias de um dia cheio. Olhos fundos de cansaço. Cada poro expelindo uma espessa faixa de tinta acinzentada, tornando o ar pesado e frio. Não sei ao certo, mas não é fácil dormir com esse peso. Já não consigo respirar em torno dessa névoa que eu mesmo criei. Devo pensar menos? Refletir menos? Será que eu preciso aprender a ser menos eu pra conseguir dormir e descansar de fato? Não é fácil... Nunca foi! Câmbio, desligo.

8 de março de 2012

A mulher na História: o Dia Internacional da Mulher

   

As comemorações do 8 de março estão mundialmente vinculadas às reivindicações femininas por melhores condições de trabalho, por uma vida mais digna e sociedades mais justas e igualitárias. Essa luta é antiga e contou com a força de inúmeras mulheres que nos vários momentos da história da humanidade resistiram ao machismo e à discriminação.
É a partir da Revolução francesa, em 1789, que as mulheres passam a atuar na sociedade de forma mais significativa, reivindicando a melhoria das condições de vida e trabalho, a participação política, o fim da prostituição, o acesso à instrução e a igualdade de direitos entre os sexos.
É nessa época que surge o nome da francesa Olympe de Gouges. Em 1791, ela lança a "Declaração dos Direitos da Cidadã", onde reivindicava o "direito feminino a todas as dignidades, lugares e empregos públicos segundo suas capacidades". Afirmava também que "se a mulher tem o direito de subir ao cadafalso, ela deve poder subir também à tribuna". Olympe de Gouges foi julgada, condenada à morte e guilhotinada em 3 de março de 1793, por "ter querido ser um homem de estado e Ter esquecido as virtudes próprias do seu sexo". Nesse mesmo ano, as associações femininas foram proibidas na França.

Na Segunda metade do século XVIII, as grandes transformações ocorridas no processo produtivo e que resultaram na Revolução Industrial, trouxeram consigo uma série de reivindicações até então inexistentes. A absorção do trabalho feminino pelas indústrias, como forma de baratear os salários, inseriu definitivamente a mulher no mundo da produção. Ela passou a ser obrigada a conviver com jornadas de trabalho que chegavam até 17 horas diárias, em condições insalubres, submetidas a espancamentos e ameaças sexuais constantes, além de receber salários que chegavam a ser 60% menores que os dos homens.
Em exemplo típico do ambiente fabril na época era a tecelagem Tydesley, em Manchester, na Inglaterra, onde se trabalhava 14 horas diárias a uma temperatura de 29º, num local úmido, com portas e janelas fechadas e, na parede, um cartaz afixado proibia, entre outras coisas, ir ao banheiro, beber água, abrir janelas ou acender as luzes.
Não tardaram a surgir, na Europa e nos Estados Unidos, manifestações operárias contrárias ao terrível cotidiano vivenciado e os enfrentamentos com o patronato e a polícia se tornaram cada vez mais freqüentes. A redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias passou a ser a grande bandeira dos trabalhadores industriais.
Em 1819, depois de um enfrentamento em que a polícia atirou com canhões contra os trabalhadores, a Inglaterra aprovou a lei que reduzia para 12 horas o trabalho das mulheres e dos menores entre 9 e 16 anos. Foi também a Inglaterra o primeiro país a reconhecer, legalmente, o direito de organização dos trabalhadores. O parlamento inglês aprovou, em 1824, o direito de livre associação e os sindicatos se organizaram em todo o país.
Foi no bojo das manifestações pela redução da jornada de trabalho que 129 tecelãs da Fábrica de Tecidos Cotton, em Nova Iorque, cruzaram os braços e paralisaram os trabalhos pelo direito a uma jornada de 10 horas, na primeira greve norte-americana conduzida unicamente por mulheres. Violentamente reprimidas pela polícia, as operárias, acuadas, refugiaram-se nas dependências da fábrica. No dia 8 de março de 1857, os patrões e a polícia trancaram as portas da fábrica e atearam fogo. Asfixiadas, dentro de um local em chamas, as tecelãs morreram carbonizadas.
Durante a II Conferência Internacional de Mulheres, realizada em 1910 na Dinamarca, a famosa ativista pelos direitos femininos, Clara Zetkin, propôs que o 8 de março fosse declarado como o Dia Internacional da Mulher, homenageando as tecelãs de Nova Iorque. Em 1911, mais de um milhão de mulheres se manifestaram na Europa. A partir daí, essa data começou a ser comemorada no mundo inteiro.


Texto extraído de "8 de março, Dia Internacional da Mulher – Uma data e muitas histórias", de Carmen Lucia Evangelho Lopes.. CEDIM-SP/Centro de Memória Sindical.

5 de março de 2012

Prostituta não é vagabunda

O jornal Beijo da rua é um marco do movimento de conscientização sobre os direitos e a organização das profissionais do sexo

por Pedro Lapera


Com o retorno dos movimentos sociais à cena política em meados dos anos 1980, um grupo socialmente invisível entra firme na luta por seu reconhecimento. Com o jornal Beijo da rua como bandeira, as prostitutas reivindicam sua legitimação na esfera pública. Os exemplares produzidos até 1993 do periódico lançado em dezembro de 1988 estão guardados na Coordenadoria de Publicações Seriadas da Fundação Biblioteca Nacional.
Fundado por Gabriela Silva Leite, a Gabi, responsável pela ONG Davida, que mais tarde lançaria a grife Daspu, e editado pelo Iser (Instituto Superior de Estudos da Religião), que tinha como coordenador Rubem César Fernandes, ativista político bastante conhecido que acolheu esta iniciativa. O objetivo do jornal era “mostrar que a prostituta não é uma vagabunda ou então o resultado do capitalismo selvagem, mas sim a linha direta de uma sociedade que morre de medo de encarar sua sexualidade e, consequentemente, se sente profundamente ameaçada quando a prostituta mostra seu rosto”.
layout do Beijo da rua tem identificação fácil para seus leitores: na primeira página, a coluna da Gabi apresenta o novo número ao lado da seção de poesia, com vários trechos de autores célebres, como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, e seus poemas sobre mulheres, prostituição e o universo do prazer. Em seguida, artigos e reportagens sobre temas relacionados à prostituição e à sexualidade: regiões das metrópoles brasileiras ocupadas por prostitutas, michês e travestis; entrevistas com profissionais falando de suas experiências na rua. Encerrando cada edição, uma seção de cartas, que evidencia a formação de uma comunidade em torno do jornal, composta de políticos, prostitutas do Rio de Janeiro e de outros estados, pesquisadores e ativistas dos direitos humanos.
Gabriela Leite qualifica a si própria e seus colaboradores como integrantes do “Exército de Brancaleone”, aludindo ao grupo de maltrapilhos criado pelo italiano Mario Monicelli no cinema. Com este espírito, o periódico questiona, desde seu primeiro número, as estruturas do poder vigente e tenta conscientizar as prostitutas da importância de participarem do jogo político, como comprovam reportagens sobre eleição de representantes, mudanças nas leis penais, civis e trabalhistas que incidem na prática da prostituição. Aliás, uma imagem que expõe a força da ideia dos “maltrapilhos” apropriando-se da cena pública é a do carro abre-alas do desfile da escola de samba Beija-Flor com centenas de figurantes vestidos de mendigos, bêbados e prostitutas, publicada no jornal e descrita na coluna da Gabi na edição de abril-maio de 1989.

Inspiração no Pasquim
Dois pontos costuram as narrativas: a violência policial e a relação entre a prática da prostituição e a ocupação de determinados espaços nas regiões urbanas. Além disso, a Aids – o grande temor dos anos 1980 – também encontra espaço nas páginas de Beijo da rua, ora como assunto de palestras destinadas ao público feminino e LGBT, ora como referência a atitudes preconceituosas, como a frase “Ih, Cazuza!”, proferida com sarcasmo contra travestis, pelo fato de o cantor ter sido a primeira personalidade a assumir publicamente ser portador do vírus.
Entretanto, o tom predominante no jornal está bem longe do pessimismo ou, ainda, da seriedade cara à militância política dos anos 1960. Inspirado em tabloides da imprensa nanica como O PasquimPlaneta Diário e Lampião da EsquinaBeijo da rua denuncia, comemora e comunica com irreverência que marcou politicamente os anos 1980, como arma contra a cultura do autoritarismo e da sobriedade dos costumes legitimada pelo regime político que acabara de cair. Digna de registro, a reportagem “Travesti: a insustentável leveza de ser”, na qual o antropólogo Jared Jorge Braiterman, ao parodiar o título do consagrado livro de Milan Kundera, afirma que “marginalizados por aqueles que estão no poder, os travestis, apesar disso, criam identidades verdadeiramente pós-modernas no seu desafio aos limites tradicionais do masculino e do feminino, das fronteiras nacionais, da verdade e da fantasia”.
Essa afirmativa vale também para as prostitutas, uma vez que, ao questionarem a rigidez da concepção de sexualidade propagada pela moral dominante, apropriam-se do espaço urbano e passam a integrar uma cartografia afetiva que desafia os tradicionais ocupantes da cena pública. Investindo na história desta cartografia, o jornal publicou uma série de artigos assinados por Jesus Lemos sobre as zonas de prostituição no Rio de Janeiro. Dentre outras, a zona do Mangue, a Cidade Nova, a Vila Mimosa e as praças da República e Tiradentes no período compreendido entre o final do século XIX e a década de 1980.
A força retórica das páginas de Beijo da rua conseguiu superar os impasses e as crises dos anos 1990: a publicação sobreviveu e ganhou, inclusive, uma versão virtual, produzida desde 2004 pela ONG Davida.  A necessidade sempre renovada de reafirmar a sexualidade como área do prazer e não das regras morais animou esta sobrevida do jornal.

Publicado em 1° de fevereiro de 2012, na Revista História.

2 de março de 2012

Pessoas de esquerda são mais inteligentes do que as direita, aponta estudo



Um polêmico estudo canadense que inclui dados coletados por mais de 50 anos, diz que as pessoas com opiniões políticas de direita, tendem a ser menos inteligentes do que as de esquerda. Ao mesmo tempo, adverte que as crianças de menor inteligência tendem a desenvolver pensamentos racistas e homofóbicas na idade adulta.
A pesquisa foi realizada por acadêmicos da Universidade Brock, em Ontário, e coletou a informação em mais de 15 mil pessoas, comparando o seu nível de inteligência encontrado na infância com os seus pensamentos políticos como adultos.
Os dados analisados ​​são dois estudos no Reino Unido em 1958 e 1970. Eles mediram a inteligência das crianças com idade entre 10 e 11 anos. Em seguida, são monitorados para descobrir suas posições políticas após 33 anos de idade.
“As habilidades cognitivas são fundamentais na formação de impressões de outras pessoas e ter a mente aberta. Indivíduos com menores capacidades cognitivas gravitar em torno de ideologias conservadoras que mantêm as coisas como elas são, porque isso as fornece um senso de ordem”, dizem no estudo publicado no Journal of Psychological Science.
Segundo as conclusões da equipe, as pessoas com menor nível de inteligência gravitam em torno de pensamentos de direita, porque esse os faz sentir mais seguros no poder, o que pode se relacionaa com o seu nível educacional, inclui o jornal britânico.
Mas esta não é a única conclusão a que chegou o estudo.
Analisados dados de um estudo de 1986 nos Estados Unidos sobre o preconceito contra os homossexuais, descobriu-se que pessoas com baixa inteligência detectado na infância tendem a desenvolver pensamentos ligados ao racismo e homofobia.
“As ideologias conservadoras representam um elo crítico através do qual a inteligência na infância pode prever o racismo na fase adulta. Em termos psicológicos, a relação entre inteligência e preconceitos podem ser derivadas de qual a probabilidade de indivíduos com baixas habilidades cognitivas apoiarem com ideologias de direita, conservadoras, porque eles oferecem uma sensação de estabilidade e ordem “, acrescentou.
“No entanto, é claro que nem todas as pessoas pessoas prejudicadas são conservadoras”, disse a equipe de pesquisa.
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Quem quiser conferir a entrevista na revista Psychology Today pode acessar o link (em inglês).