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27 de agosto de 2012

Esse tal Dr. Seuss...

Olá Olá...
Meus caros, hoje venho falar sobre algo que de certo modo não tem NADA haver com história, a não ser para as crianças....
"Mas como assim, CRIANÇAS??"
Bem, ontem eu assisti a uma animação chamada "O Lorax", e descobri que o homem que escreveu este conto, é o mesmo que escreveu VÁRIOS outros, mas infelizmente aqui na terra no tupiniquim são pouco divulgados, mas tenho certeza que você já assistiu ao filme "O Grinch" com Jim Carrey, onde sua História é baseada no conto  "How the Grinch Stole Christmas". 

BIOGRAFIA

Dr. Seuss e suas personagens
Dr. Seuss com seu nome completo, Theodor Seuss Geisel, é uma pessoa bem conhecida pela sua prescrição, embora ele não é um médico certificado. Foi-lhe dado um apelido chamado 'Ted'. Ele nasceu em Springfield, Massachusetts em 2 de março de 1904. Ele veio de uma família rica e durante a Primeira Guerra Mundial e proibição, sua família foi alvo de muitas afrontas, principalmente devido à sua herança e estilo de vida. Apesar disso, Ted e sua irmã haviam ativamente juntou-se à I Guerra Mundial campanha e, finalmente, reconhecidos como ativos adolescentes que participaram de muitas atividades. Ted tinha uma família grande e amorosa. Embora os pais foram um pouco rigoroso, mas Ted viveu-se feliz. Ele ama sua mãe muito. Sua mãe conheceu seu pai em uma loja pequena padaria. Em sua primeira educação, ele foi enviado para Dartmouth College. Ele era um aluno inteligente e brilhante no colégio. Ele escreveu um monte de matérias para as revistas da faculdade e ele foi reconhecido como o editor-chefe de Jack-O-Lantern, a revista do Dartmouth humor. Ele começou a construir seu nome nos escritos e os publicou na revista. No entanto, houve uma vez, quando Ted organizou uma festa que ia contra a política universitária, o seu futuro na escrita tinha chegado ao fim. Ele não desistiu só por causa desse incidente. Ele continuou a contribuir para a revista através da assinatura de todos os seus escritos como 'Seuss' em vez de "Geisel". Depois de formado na Faculdade de Dartmouth, ted afirmou que a Universidade de Oxford havia lhe oferecido um lugar na universidade ea notícia foi publicada. No entanto, a notícia foi negada pela Oxford University. Assim, o pai não tinha escolha a não ser mandá-lo para outro lugar para estudar com seu próprio dinheiro. Seu sonho de ser um professor tinha chegado ao fim. No entanto, ele nunca desistiu. Ele havia trabalhado duro para provar ao povo a sua inteligência e profissionalismo. Ted teve a sorte de ter uma esposa solidária e apaixonada. Ambos sempre foram chamados para hospedar grandes festas e cerimônias. Audrey tem lhe dado muitas aspirações de vida, especialmente em seus escritos e obras de arte. Havia muitas contribuições de Ted ao longo de sua vida profissional. Foi-lhe dada a oportunidade de ser o editor de Viking Press. Ao mesmo tempo, ele também trabalhou como cartunista e ilustrador. Sua dedicação e contribuições tinha concedeu-lhe com um 'doutorado' title. Ele continuou sua carreira na produção de artes de qualidade e desenhos. Quando Ted passado afastado em 1991, mais de 200 milhões de cópias de seus trabalhos publicados foram interpretados em diferentes idiomas. Isso mostra o quanto a sociedade aprecia obras do Dr. Seuss. Sua dedicação e esforço são maravilhosos e inquestionável!

Nas minhas andanças e pesquisas sobre Seuss, encontrei o site do autor, e diga-se de passagem, é um encanto. Totalmente interativo, até mesmo adultos ficam abismados.
Você pode "viajar" pelos contos do autor, ter acesso a suas obras, sua vida, as personagens. Há jogos, e tudo mais...um prato cheio para diversão.
O site está aqui:

Enfim, tem haver com História no fim. 
Espero de coração que gostem...
Bjs bjs




28 de junho de 2012

Tomando as rédeas do nosso destino: o papel de Deus no imaginário ocidental.


     No início do século XX, o físico alemão Albert Einstein nos mostrava o abraço insano do espaço e do espaço aumentando as nossas perspectivas acerca do Universo. Não muito antes o naturalista britânico Charles Darwin contrariava o pensamento ocidental ao mostra a sua Teoria da Evolução e fazendo com que homem descesse do pedestal onde foi colocado pelo pensamento religioso, que afirmava que um deus nos havia criado como seres superiores sobre todas as outras formas de vida.
     Esses dois exemplos nos mostram o objetivo da Ciência: descobrir a realidade oculta que revela o nosso passado e, sem dúvida o nosso próprio futuro, nos tornando mais humildes e mudando assim o nosso caráter, pois quanto mais aprendemos mais questões surgem e lá vamos nós de novo tentando solucioná-las.
     Mas você já parou para pensar porque queremos descobrir cada vez mais e mais sobre nós mesmos? Tudo tem a ver com razão. A nossa principal característica, o cérebro capaz de captar, armazenar e fabricar grande quantidade e informações , nos impele a descobrir o sentido de tudo e com ele a resposta para uma questão existencial: Seríamos somente mais uma forma de vida no planeta ou nossa existência possui um propósito maior?
     Os cientistas já forneceram essa resposta: o homem está procurando compreender a realidade em sua totalidade. É óbvio se percebermos que queremos um dia saber a verdade oculta em nós e em tudo que está ao nosso redor.
     Porém, o próprio homem se forneceu uma segunda forma de decifrar a questão da existência. A religião afirma que a existência provém da vontade de um deus e que ele a criou, e que nada senão o vazio e o obscuro havia antes dele.
     Mas porque conceber uma ideia tão simples para explicar algo tão complexo? Fico pensando se não é uma certa preguiça de ir além daquilo que não exige muita razão mas algo que os teístas chamam de fé, a velha fé no ser superior que nos criou, que é o princípio e fim de todas as coisas.
     Porque não pensar a Terra como nosso templo sagrado com sua grande cúpula azul que o homem observa incessantemente coo forma de responder as suas tantas perguntas?
     O homem criou Deus a partir do medo do desconhecido. Quando o homem não sabia a origem, logo atribuía a essa entidade. Daí surgiram os deuses ou deusas: da chuva, do trovão, da fertilidade entre outros tantos, cultuados durante milênios por diversas civilizações.
     O monoteísmo foi pensado pelo faraó Amenófis IV, que instituiu durante seu reinado o culto ao deus Aton (uma forma do deus Amon) representado como um disco solar que nos baixos-relevos do período é representado soltando vários raios que terminam nas mãos do faraó, que seria seu representante na terra. Porém depois da morte de Amenófis IV a antiga religião politeísta foi restaurada.
     O Judaísmo, religião da qual mais tarde derivaria o Cristianismo, afirma haver um só deus cujo nome é traduzido como Javé ou Jeová, que seria criador do Universo, libertador do povo hebreu do cativeiro no Egito e quem deu a Moisés os dez mandamentos. Porém não podemos dizer que ele é bom, inúmeras passagens na Torá e demais livros que atualmente compõem a Bíblia o mostram como um deus vingativo, disposto atestar os homens e que quer sente uma vontade imensa de ser adorado a qualquer momento.  Alguns acadêmicos afirmam ser Javé um dos deuses da religião semita, esposo da deusa Aserá, que depois de algum tempo ganhou destaque e passou a ter um culto único, ou até mesmo uma fusão de personalidades de diversos deuses pagãos cultuados no Oriente Próximo.
     Vemos todos os dias na TV, notícias de exploração de pessoas por parte de líderes religiosos que se usam desse ser historicamente construído para beneficio próprio o que nos faz pensar que a Psicologia evoluiu bastante no conhecimento da mente para as pessoas ainda buscar soluções para seus dramas e para os dramas da humanidade em templos por meio de rituais e preces.
     Sendo assim para que acreditar em textos aos quais não se pode provar a veracidade e que só podem ser lendas de povos antigos que ainda hoje acreditamos? Confiar em nossas capacidades ainda hoje é a maior saída para os nossos problemas e para a busca de nossas respostas. A capacidade do homem de ser autor do seu destino fará com que ele progrida tanto no plano material quanto ético.
     Os grandes homens nos mostram que a felicidade consiste em trabalhar para o bem-estar humano e para que um dia nossa civilização alcance um estado de paz e de igualdade entre todos os seres.
Isso é possível? Sim. Basta revermos as nossas crenças e procurarmos mudar a forma com que vemos o mundo. Se o olharmos como algo que não tem mais conserto e que só mesmo um enviado divino poderá nos salvar, nossa crença nos colocará sentados à espera de um sinal dos céus mas, se procurarmos ver o mundo com mais otimismo, sabendo que o homem ainda é um novato em comparação a vida do nosso planeta, saberemos que ainda há muito o que evoluir mas que isso não ocorre do dia para a noite mas que se tomarmos as rédeas do nosso destino, que até agora estavam nas mãos de um ser invisível, lograremos grandes feitos em prol do aperfeiçoamento do ser humano.

Bruno Camargo dos Santos, licenciando em História pela Universidade de Sorocaba

10 de junho de 2012

Pensamentos mais humanos: a paz como um trabalho conjunto.


''Devemos ser a mudança que queremos do mundo.'' - Gandhi

Todos os dias somos bombardeados com dezenas de opiniões acerca de variados assuntos, pois é de nossa natureza falar aquilo que achamos sobre a realidade da qual fazemos parte. Porém os embates não ocorrem somente na forma de diálogo. Vemos toda forma de violência nas ruas e dentro do círculo familiar, desde um simples tapa que um pai dá em seu filho até a esposa que mata o marido de modo cruel e o retalha colocando-o em um saco.
Os milênios de evolução intelectual parecem não terem nos favorecido no campo da ética e da moral, o que mostra que somos tão animais quanto o primeiro primata que desceu das árvores e se pôs a procurar seu alimento nas savanas da África. Uma pergunta deveria pairar sobre nossas cabeças: Será que somente o progresso no campo da Técnica e da Ciência nos basta?
O caso do pai que abraçou o filho na rua e foi espancado por meliantes que achavam que estes eram homossexuais já caiu no esquecimento bem como os dos muitos homossexuais que foram espancados pelas ruas das grandes e pequenas cidades brasileiras.
Nesse panorama de filme de terror, que a população alienada só se depara quando assiste ao programa do Datena, não roubaram o meu relógio, mas a nossa liberdade de sair às ruas sem nos preocupar que o tigre da violência decorrente da desigualdade venha ceifar nossas vidas nessa savana urbana.
E nisso tanta coisa tão torpe tenho tido que escutar, até uma frase que de tão característica do senso comum que parece ter sido tirada da boca de um ‘’herói’’ do Big Brother: Todo político é corrupto, e só se tornar para se corromper. E eu pergunto: Você se corromperia? E a pessoa não sabe responder.
A corrupção também é uma violência, contra a mãe que quer melhor educação para o filho, o deficiente que quer melhorias urbanas enfim, contra a sociedade toda. Porém esta é uma violência aceita, pois no Brasil a esperança, pelo menos da perspectiva de parte do povo, parece estar morta.
Chamamos o rico de burguês, mas compramos um tablet ou qualquer parafernália do tipo sem saber que elas são montadas por uma criança num país da Ásia. Mas enquanto isso persiste nossa discussão tola de direita contra esquerda, e nos esquecemos que todos nós somos humanos e que o planeta sucumbe pela nossa incompetência em geri-lo.
Se pensarmos além das divisões sociais que nós mesmos nos impomos, veremos que cada um de nós é uma célula que compõem esse todo ao qual chamamos Terra. Nós e todos os ecossistemas somos um organismo vivo que padece de um câncer e para tratá-lo todos terão de se mobilizar, pois essa doença pode custar a nossa vida.
Essa consciência planetária pode soar um tanto New Age, mas o mundo está começando a voltar-se para ela. O que você veste, come, fala e o modo com que você age começa a ser ligado a um plano maior. Diria que estamos voltando à infância quando nossa mãe nos dizia do perigo que é jogar papel na rua.
Porém os mais apressados acham que podem mudar o mundo da noite para o dia. Nada no mundo ocorre desta maneira, tudo é um processo porque até mesmos nós somos seres inacabados. E por fim chamo o velho Lennon à mesa para papear comigo como fazem os historiadores e digo a ele: Não meu caro, você estava errado, o sonho não acabou; a humanidade um dia viverá em paz.

Bruno Camargo dos Santos, licenciando em História pela Universidade de Sorocaba.


20 de abril de 2012

A história de uma morte sem explicação


por Fausto Macedo.

Alguém telefonou para a família Vannucchi, faz 35 anos, e disse: "O Lê tá preso em São Paulo."
Cinco dias depois, uma sexta-feira, 23 de março de 1973, os jornais chegaram às bancas com a informação, apenas uma nota, sobre audacioso terrorista que morreu atropelado por um caminhão quando tentava escapar de um cerco policial no Brás.
Alexandre Vannucchi Leme, que tinha 22 anos e hoje teria 57, foi alvo de célebre farsa da repressão, que chocou a Igreja e desencadeou reação dos estudantes contra o regime dos generais.
Ele fazia o quarto ano de Geologia da Universidade de São Paulo (USP) quando os encapuzados da Operação Bandeirante (Oban) - organização paramilitar que ganhou as ruas a partir de 1969 - o capturaram, na tarde do dia 16 de março daquele ano, sob suspeita de integrar a cúpula armada da Ação Libertadora Nacional (ALN), de Carlos Marighella.
Morreu em 17 de março, surrado até perder o fôlego e os sentidos, sangrando profusamente no chão, relataram sobreviventes que com ele dividiram os porões do DOI-Codi, e por isso a Justiça e a União reconheceram o crime e mandaram indenizar a família.
A reparação veio em dinheiro, muito depois, em 1997 (governo Fernando Henrique Cardoso), mas os Vannucchi até hoje não receberam explicação para o encarceramento e a morte do filho.
José de Oliveira Leme, de 86 anos, e Egle Maria Vannucchi Leme, 82, pais de Alexandre, são professores aposentados. Ele tinha 51 anos e ela 47 quando perderam o filho e a paz.
Ainda o chamam de Lê e moram na mesma casa em que Alexandre e os cinco irmãos, mais novos, foram criados, à Rua Amazonas, Sorocaba, a 100 quilômetros de São Paulo.
É uma casa simples e antiga, mas espaçosa e agradável, construída quando a rua era de terra batida e a família tinha uma DKW Vemaguete à porta.
No quarto que foi de Lê, e também no sótão, seus pais preservam objetos, fotografias em preto e branco e outras lembranças dele - a cama e o guarda-roupas de um marrom escuro, o casaco de lã xadrez pendurado no cabide e protegido em plástico, a mesinha de canto envernizada onde fazia as lições, caixotes com pedras minerais que trazia de suas incursões à siderúrgica Ipanema, e o disco de Ravi Shankar, o músico indiano que admirava.
Em 1969, na Semana da Pátria do AI-5, ele tomou a decisão de estudar em São Paulo. Fez três meses do cursinho Equipe e passou em primeiro lugar no vestibular da Geologia, que começou a fazer ano seguinte. Míope, por isso os óculos de aro preto, era ávido leitor. "Lia compulsivamente, ele tinha um desejo maluco de aprender", conta o pai.
Morou com o tio Luís Leme em um apartamento na Teodoro Sampaio, em Pinheiros, depois acomodou-se em uma república ali perto com outros quatro universitários que o chamavam de Minhoca - por gostar muito de mexer com terra e ser magrinho.
Vivia da mesada dos pais e de uns honorários como professor particular - em Sorocaba, onde nasceu, fez o curso normal, que o habilitou para o magistério.
Jamais participou à família, nem mesmo aos amigos mais próximos, sobre o engajamento na luta armada que os militares imputaram a ele e por isso o rotularam de subversivo, quadro de alto escalão do braço estudantil da ALN.
A cada duas semanas visitava a casa de Sorocaba, que era para ele um retiro, e ali nunca disse nada sobre a vida clandestina, nem nunca lhe perguntaram, até porque os pais o tinham na conta do estudante aplicado porque tinha sido assim desde sempre.
Chegava sábado, ia no domingo. Gostava de pingue-pongue, que jogava em uma mesa tosca no piso inferior da casa. "Era o ambiente do Lê", lembra o pai.
Nas tardes de bom tempo, descia duas quadras com os colegas da Vila Santa Terezinha e no campinho sem grama batia bola até o sol se pôr.
O futebol era uma paixão sua, o Corinthians o time do coração. Aquele campinho hoje é a Praça Alexandre Vannucchi Leme, de quatro árvores pequenas e uma placa de bronze em sua homenagem.
Então, naquela segunda-feira, 19 de março, às 10h30, o telefone tocou. José Augusto, irmão mais novo, ouviu o recado de alguém que não disse quem era e avisou sobre a prisão de Alexandre, que já estava morto havia dois dias.
A família foi averiguar. O pai de Alexandre não dirigia na estrada, por isso tomou um ônibus da Viação Cometa até São Paulo e deu início a uma sofrida jornada nos endereços da repressão.
Foi ao Dops e ao DOI-Codi, o Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna do Exército. Negaram a ele que o rapaz estivesse por lá.
Na quinta à noite, 22, o pai retornou a Sorocaba sem uma única informação sobre o filho.
Planejava retomar as buscas no dia seguinte. Egle até preparou a mala com alguns pertences para o filho, a escova de dentes, uma muda de roupa, o pijama. "A gente tinha esperança de encontrar o menino com vida em alguma prisão", ela relembra, agarrada a uma grande gravura - o rosto do filho desenhado em crayon pelo engenheiro e amigo Mário Mattos.
Na agência da Cometa havia uma banca de jornais e revistas. Antes do embarque, manhã de 23, José leu a notícia. "Alexandre Vannucchi Leme, estudante, preso dia 16 por ser membro ativo da ALN, ao ser levado para um encontro com outro subversivo tentou fugir e foi atropelado."
O pai do jovem Alexandre voltou ao Dops, aquela construção centenária de tijolos vermelhos no bairro da Luz.
No segundo andar, em uma sala de janelões altos e de fundos, recebeu-o o homem encorpado, de olhos verdes e mal encarado, que a história colocou no banco dos réus como o senhor dos porões. Era o delegado Sérgio Fernandes Paranhos Fleury, mas o pai aflito não se intimidou.
"Por que vocês mataram o meu filho?", questionou.
"Aqui matamos bandido, não temos nada com esse caso do seu filho", respondeu Fleury, segundo o relato de José.
"Não acredito em nada do que o senhor está falando", retrucou o professor, que partiu para uma segunda busca, a do cadáver do filho.
Alexandre jazia em cova rasa do Cemitério de Perus, destino dos indigentes e dos sem-identidade. O jovem não era indigente e tinha identidade, mas os militares depositaram seu corpo ali, enrolado em saco preto emborrachado.

Publicado no Jornal O Estado de São Paulo em 15 de março de 2008.

8 de março de 2012

A mulher na História: o Dia Internacional da Mulher

   

As comemorações do 8 de março estão mundialmente vinculadas às reivindicações femininas por melhores condições de trabalho, por uma vida mais digna e sociedades mais justas e igualitárias. Essa luta é antiga e contou com a força de inúmeras mulheres que nos vários momentos da história da humanidade resistiram ao machismo e à discriminação.
É a partir da Revolução francesa, em 1789, que as mulheres passam a atuar na sociedade de forma mais significativa, reivindicando a melhoria das condições de vida e trabalho, a participação política, o fim da prostituição, o acesso à instrução e a igualdade de direitos entre os sexos.
É nessa época que surge o nome da francesa Olympe de Gouges. Em 1791, ela lança a "Declaração dos Direitos da Cidadã", onde reivindicava o "direito feminino a todas as dignidades, lugares e empregos públicos segundo suas capacidades". Afirmava também que "se a mulher tem o direito de subir ao cadafalso, ela deve poder subir também à tribuna". Olympe de Gouges foi julgada, condenada à morte e guilhotinada em 3 de março de 1793, por "ter querido ser um homem de estado e Ter esquecido as virtudes próprias do seu sexo". Nesse mesmo ano, as associações femininas foram proibidas na França.

Na Segunda metade do século XVIII, as grandes transformações ocorridas no processo produtivo e que resultaram na Revolução Industrial, trouxeram consigo uma série de reivindicações até então inexistentes. A absorção do trabalho feminino pelas indústrias, como forma de baratear os salários, inseriu definitivamente a mulher no mundo da produção. Ela passou a ser obrigada a conviver com jornadas de trabalho que chegavam até 17 horas diárias, em condições insalubres, submetidas a espancamentos e ameaças sexuais constantes, além de receber salários que chegavam a ser 60% menores que os dos homens.
Em exemplo típico do ambiente fabril na época era a tecelagem Tydesley, em Manchester, na Inglaterra, onde se trabalhava 14 horas diárias a uma temperatura de 29º, num local úmido, com portas e janelas fechadas e, na parede, um cartaz afixado proibia, entre outras coisas, ir ao banheiro, beber água, abrir janelas ou acender as luzes.
Não tardaram a surgir, na Europa e nos Estados Unidos, manifestações operárias contrárias ao terrível cotidiano vivenciado e os enfrentamentos com o patronato e a polícia se tornaram cada vez mais freqüentes. A redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias passou a ser a grande bandeira dos trabalhadores industriais.
Em 1819, depois de um enfrentamento em que a polícia atirou com canhões contra os trabalhadores, a Inglaterra aprovou a lei que reduzia para 12 horas o trabalho das mulheres e dos menores entre 9 e 16 anos. Foi também a Inglaterra o primeiro país a reconhecer, legalmente, o direito de organização dos trabalhadores. O parlamento inglês aprovou, em 1824, o direito de livre associação e os sindicatos se organizaram em todo o país.
Foi no bojo das manifestações pela redução da jornada de trabalho que 129 tecelãs da Fábrica de Tecidos Cotton, em Nova Iorque, cruzaram os braços e paralisaram os trabalhos pelo direito a uma jornada de 10 horas, na primeira greve norte-americana conduzida unicamente por mulheres. Violentamente reprimidas pela polícia, as operárias, acuadas, refugiaram-se nas dependências da fábrica. No dia 8 de março de 1857, os patrões e a polícia trancaram as portas da fábrica e atearam fogo. Asfixiadas, dentro de um local em chamas, as tecelãs morreram carbonizadas.
Durante a II Conferência Internacional de Mulheres, realizada em 1910 na Dinamarca, a famosa ativista pelos direitos femininos, Clara Zetkin, propôs que o 8 de março fosse declarado como o Dia Internacional da Mulher, homenageando as tecelãs de Nova Iorque. Em 1911, mais de um milhão de mulheres se manifestaram na Europa. A partir daí, essa data começou a ser comemorada no mundo inteiro.


Texto extraído de "8 de março, Dia Internacional da Mulher – Uma data e muitas histórias", de Carmen Lucia Evangelho Lopes.. CEDIM-SP/Centro de Memória Sindical.

5 de março de 2012

Prostituta não é vagabunda

O jornal Beijo da rua é um marco do movimento de conscientização sobre os direitos e a organização das profissionais do sexo

por Pedro Lapera


Com o retorno dos movimentos sociais à cena política em meados dos anos 1980, um grupo socialmente invisível entra firme na luta por seu reconhecimento. Com o jornal Beijo da rua como bandeira, as prostitutas reivindicam sua legitimação na esfera pública. Os exemplares produzidos até 1993 do periódico lançado em dezembro de 1988 estão guardados na Coordenadoria de Publicações Seriadas da Fundação Biblioteca Nacional.
Fundado por Gabriela Silva Leite, a Gabi, responsável pela ONG Davida, que mais tarde lançaria a grife Daspu, e editado pelo Iser (Instituto Superior de Estudos da Religião), que tinha como coordenador Rubem César Fernandes, ativista político bastante conhecido que acolheu esta iniciativa. O objetivo do jornal era “mostrar que a prostituta não é uma vagabunda ou então o resultado do capitalismo selvagem, mas sim a linha direta de uma sociedade que morre de medo de encarar sua sexualidade e, consequentemente, se sente profundamente ameaçada quando a prostituta mostra seu rosto”.
layout do Beijo da rua tem identificação fácil para seus leitores: na primeira página, a coluna da Gabi apresenta o novo número ao lado da seção de poesia, com vários trechos de autores célebres, como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, e seus poemas sobre mulheres, prostituição e o universo do prazer. Em seguida, artigos e reportagens sobre temas relacionados à prostituição e à sexualidade: regiões das metrópoles brasileiras ocupadas por prostitutas, michês e travestis; entrevistas com profissionais falando de suas experiências na rua. Encerrando cada edição, uma seção de cartas, que evidencia a formação de uma comunidade em torno do jornal, composta de políticos, prostitutas do Rio de Janeiro e de outros estados, pesquisadores e ativistas dos direitos humanos.
Gabriela Leite qualifica a si própria e seus colaboradores como integrantes do “Exército de Brancaleone”, aludindo ao grupo de maltrapilhos criado pelo italiano Mario Monicelli no cinema. Com este espírito, o periódico questiona, desde seu primeiro número, as estruturas do poder vigente e tenta conscientizar as prostitutas da importância de participarem do jogo político, como comprovam reportagens sobre eleição de representantes, mudanças nas leis penais, civis e trabalhistas que incidem na prática da prostituição. Aliás, uma imagem que expõe a força da ideia dos “maltrapilhos” apropriando-se da cena pública é a do carro abre-alas do desfile da escola de samba Beija-Flor com centenas de figurantes vestidos de mendigos, bêbados e prostitutas, publicada no jornal e descrita na coluna da Gabi na edição de abril-maio de 1989.

Inspiração no Pasquim
Dois pontos costuram as narrativas: a violência policial e a relação entre a prática da prostituição e a ocupação de determinados espaços nas regiões urbanas. Além disso, a Aids – o grande temor dos anos 1980 – também encontra espaço nas páginas de Beijo da rua, ora como assunto de palestras destinadas ao público feminino e LGBT, ora como referência a atitudes preconceituosas, como a frase “Ih, Cazuza!”, proferida com sarcasmo contra travestis, pelo fato de o cantor ter sido a primeira personalidade a assumir publicamente ser portador do vírus.
Entretanto, o tom predominante no jornal está bem longe do pessimismo ou, ainda, da seriedade cara à militância política dos anos 1960. Inspirado em tabloides da imprensa nanica como O PasquimPlaneta Diário e Lampião da EsquinaBeijo da rua denuncia, comemora e comunica com irreverência que marcou politicamente os anos 1980, como arma contra a cultura do autoritarismo e da sobriedade dos costumes legitimada pelo regime político que acabara de cair. Digna de registro, a reportagem “Travesti: a insustentável leveza de ser”, na qual o antropólogo Jared Jorge Braiterman, ao parodiar o título do consagrado livro de Milan Kundera, afirma que “marginalizados por aqueles que estão no poder, os travestis, apesar disso, criam identidades verdadeiramente pós-modernas no seu desafio aos limites tradicionais do masculino e do feminino, das fronteiras nacionais, da verdade e da fantasia”.
Essa afirmativa vale também para as prostitutas, uma vez que, ao questionarem a rigidez da concepção de sexualidade propagada pela moral dominante, apropriam-se do espaço urbano e passam a integrar uma cartografia afetiva que desafia os tradicionais ocupantes da cena pública. Investindo na história desta cartografia, o jornal publicou uma série de artigos assinados por Jesus Lemos sobre as zonas de prostituição no Rio de Janeiro. Dentre outras, a zona do Mangue, a Cidade Nova, a Vila Mimosa e as praças da República e Tiradentes no período compreendido entre o final do século XIX e a década de 1980.
A força retórica das páginas de Beijo da rua conseguiu superar os impasses e as crises dos anos 1990: a publicação sobreviveu e ganhou, inclusive, uma versão virtual, produzida desde 2004 pela ONG Davida.  A necessidade sempre renovada de reafirmar a sexualidade como área do prazer e não das regras morais animou esta sobrevida do jornal.

Publicado em 1° de fevereiro de 2012, na Revista História.

2 de março de 2012

Pessoas de esquerda são mais inteligentes do que as direita, aponta estudo



Um polêmico estudo canadense que inclui dados coletados por mais de 50 anos, diz que as pessoas com opiniões políticas de direita, tendem a ser menos inteligentes do que as de esquerda. Ao mesmo tempo, adverte que as crianças de menor inteligência tendem a desenvolver pensamentos racistas e homofóbicas na idade adulta.
A pesquisa foi realizada por acadêmicos da Universidade Brock, em Ontário, e coletou a informação em mais de 15 mil pessoas, comparando o seu nível de inteligência encontrado na infância com os seus pensamentos políticos como adultos.
Os dados analisados ​​são dois estudos no Reino Unido em 1958 e 1970. Eles mediram a inteligência das crianças com idade entre 10 e 11 anos. Em seguida, são monitorados para descobrir suas posições políticas após 33 anos de idade.
“As habilidades cognitivas são fundamentais na formação de impressões de outras pessoas e ter a mente aberta. Indivíduos com menores capacidades cognitivas gravitar em torno de ideologias conservadoras que mantêm as coisas como elas são, porque isso as fornece um senso de ordem”, dizem no estudo publicado no Journal of Psychological Science.
Segundo as conclusões da equipe, as pessoas com menor nível de inteligência gravitam em torno de pensamentos de direita, porque esse os faz sentir mais seguros no poder, o que pode se relacionaa com o seu nível educacional, inclui o jornal britânico.
Mas esta não é a única conclusão a que chegou o estudo.
Analisados dados de um estudo de 1986 nos Estados Unidos sobre o preconceito contra os homossexuais, descobriu-se que pessoas com baixa inteligência detectado na infância tendem a desenvolver pensamentos ligados ao racismo e homofobia.
“As ideologias conservadoras representam um elo crítico através do qual a inteligência na infância pode prever o racismo na fase adulta. Em termos psicológicos, a relação entre inteligência e preconceitos podem ser derivadas de qual a probabilidade de indivíduos com baixas habilidades cognitivas apoiarem com ideologias de direita, conservadoras, porque eles oferecem uma sensação de estabilidade e ordem “, acrescentou.
“No entanto, é claro que nem todas as pessoas pessoas prejudicadas são conservadoras”, disse a equipe de pesquisa.
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Quem quiser conferir a entrevista na revista Psychology Today pode acessar o link (em inglês).

17 de fevereiro de 2012

O racismo está crescendo

O relator da ONU encarregado de avaliar a discriminação no mundo, Doudou Diène, diz que o preconceito é cada vez maior em muitos países e que no Brasil ele está profundamente arraigado em toda a sociedade

por Dayanne Mikevis.

O Brasil recebeu no mês passado a visita de um homem cuja a missão de fazer três perguntas a um eclético grupo de pessoas, que ia de representantes da sociedade civil ao presidente da República. Para isso, passou dez dias no país cumprindo uma agenda atribulada em Brasília, Rio de Janeiro, Salvador, Recife e São Paulo. Na forma, as questões eram absolutamente singelas: a) Existe racismo no Brasil?; b) Quais são as manifestações de discriminação e racismo atualmente?; e c) Quais são as soluções para combater o problema? Se perguntar não ofende, como reza o velho bordão, não se pode dizer o mesmo das respostas que o senegalês Doudou Diène ouviu. O relator especial da Comissão de Direitos Humanos da ONU para as Formas Contemporâneas de Racismo e Discriminação disse que ficou "perturbado" com certas coisas que escutou e observou. O relatório com sua análise será divulgado pelas Nações Unidas somente em março. Um dia antes de partir, no entanto, Doudou abriu espaços entre seus compromissos em São Paulo para responder suas próprias perguntas e compartilhar com os leitores da Raça suas primeiras conclusões. Ditas em francês, inglês e um pouco de espanhol - por telefone, pessoalmente e numa entrevista coletiva -, estas são as suas impressões:

Raça - O senhor está há quatro anos na função e já visitou diversos países. Como está o racismo no mundo?
Doudou Diène - Há um recrudescimento do racismo. Nos últimos anos ocorreram três conferências internacionais para combate ao racismo. A última foi a de Durban, e uma convenção internacional foi feita. Apesar disso, atos de racismo ocorrem em todos os continentes e se traduzem em violência. Estamos assistindo à legitimação intelectual do racismo de uma forma que não víamos alguns anos atrás. Samuel Huntington, professor da Universidade Harvard, publicou recentemente o livro Where Are We? ("Onde estamos?"), cuja tese principal é que a presença dos latinos na América do Norte é uma ameaça à cultura norte-americana. É um livro de muitas páginas, que legitima a discriminação da população latina nos Estados Unidos. Portanto, vemos que o bicho está saindo da floresta. Criou-se um ambiente no qual essas coisas podem ser ditas agora. O combate ao terrorismo, que é legítimo, acabou justificando a discriminação contra certos grupos. Tudo isso leva a pensar que a discriminação racial e a xenofobia são as ameaças mais graves aos princípios democráticos. É cada vez maior o número de agremiações políticas que adotam discursos racistas. Na Europa, alguns partidos xenófobos vêm obtendo 15%, 20% dos votos. Isso é muito grave.

Revista Raça - Há racismo no Brasil?
Doudou Diène - Recebi dois tipos de resposta. No documento que o Brasil assinou em 2001, na última conferência internacional contra o racismo, realizada em Durban, na África do Sul, o presidente Fernando Henrique Cardoso reconhecia a realidade do racismo. Em contrapartida, encontrei alguns dirigentes estaduais e federais, que relativizam a realidade e a importância do racismo, com base no argumento ideológico da democracia racial. Notei uma grande diferença entre o reconhecimento do racismo pelos aparelhos de Estado e a vontade manifesta de combatê-lo, quando não a própria negação de parte de algumas autoridades. Todas as comunidades com que me encontrei no Brasil - com exceção da japonesa em São Paulo - expressaram com grande dor e sofrimento a profundidade do racismo. A discriminação constitui o pilar ideológico deste hemisfério, e isso inclui o Brasil. Tendo em conta que o país recebeu 40% da população escrava no mundo, ele foi marcado por essa herança. O racismo é uma construção que tem uma extensão intelectual muito intensa, que impregnou a mentalidade das pessoas. Portanto, tiro duas conclusões preliminares sobre a pergunta. Uma é que o racismo certamente existe no Brasil e a outra é que ele tem uma dimensão histórica considerável.

Revista Raça - Quais são as manifestações de discriminação e racismo atualmente?
Doudou Diène - A primeira delas é no plano econômico, social e político. Isso inclui a educação, habitação e todos os indicadores sociais. Pode-se verificar no Brasil manifestações concretas e materiais do racismo. Uma das mais importantes é a própria invisibilidade dessas comunidades na estrutura de governo, da economia e dos meios de comunicação. É como se o Brasil vivesse em dois mundos no mesmo país. Há o mundo da rua, multicultural, vibrante e caloroso. Mas no que diz respeito às estruturas de poder, há um Brasil diferente, que não reflete essa diversidade, caracterizado pelo ocultamento de comunidades de ascendência africana e indígena, entre outras. Vi o mesmo nos meios de comunicação. Depois de gostar muito da rua brasileira, as imagens que vejo na TV parecem que vêm do cosmo. Não correspondem à rua. O Brasil tem uma peculiaridade que já observei em outros lugares onde existe também essa discriminação histórica: quando o mapa da organização social e política coincide com o mapa das etnias marginalizadas, é sinal de um racismo estrutural muito forte. Só que o racismo não se resume a isso. Existe também no âmbito cultural, dos valores e das identidades. E aí também percebi que o impacto do racismo é muito forte. Muita gente que efetivamente pertence a determinado grupo não quer ser vista como negra ou de outra determinada etnia. E quando em um país as pessoas se recusam a reconhecer aquilo que elas são é porque a ferida do racismo é muito marcada e a negação de si próprio, de sua identidade, é a expressão dessa discriminação. Percebi também que o aspecto cultural foi usado no Brasil como máscara e como álibi do racismo. Em Salvador, há uma grande vitalidade cultural da comunidade de ascendência africana, como a música, a culinária e o candomblé. No entanto, esse vigor multicultural não se traduziu em uma diminuição do racismo na cidade, nem na sua estrutura política.

Revista Raça - Quais as são as soluções para o problema?
Doudou Diène - O Brasil fez um esforço considerável na elaboração de um status jurídico contra o racismo, pela legislação, pela criação de estruturas no aparelho de Estado, em especial a Secretaria pela Igualdade Racial, SEPPIR, com políticas de ação afirmativa e, sobretudo, no aspecto jurídico. Não há dúvida de que mostra uma vontade de acabar com o racismo. A lei e a constituição brasileira são os documentos que o Brasil se deu para combater o racismo de uma maneira clara e firme. A única questão é a aplicação dessa legislação. Vi duas realidades muito complexas no Brasil. De um lado, conheci pessoas com vontade de lutar contra a discriminação. Eu sei, por exemplo, o que acontece nos bancos e a maneira como o Ministério Público se empenha em fazer com que a lei seja respeitada. Mas encontrei entre dirigentes locais e nacionais, altos funcionários da Polícia Federal e alguns juízes nos Estados não apenas a velha desculpa da democracia racial, mas também a falta de empenho em aplicar a política federal de combate ao racismo. É preciso que a vontade política expressa na esfera federal seja aplicada no plano regional.

Revista Raça - E que recomendações o senhor pretende fazer em seu relatório?
Doudou Diène - Recomendarei um plano nacional abrangente para combater o racismo, e que ele seja feito em estreita colaboração com as comunidades diretamente envolvidas, tratando primeiro dos aspectos sociais, econômicos e políticos. Também vou sugerir que se corrija a invisibilidade das comunidades e que se faça com que as estruturas que dirigem a sociedade brasileira reflitam a riqueza cultural e étnica deste país, não dando mais a impressão de que, quando chegamos ao Brasil, estamos na Lua, com uma face clara e escura completamente opostas.

Revista Raça - Qual a sua reação diante das autoridades que tentaram diminuir o problema da questão racial no Brasil?
Doudou Diène - Eu fiquei perturbado. Foram altas personalidades que disseram isso e uma delas me disse até que a questão do racismo não era pertinente no Brasil. Ele não conseguia ver, parecia ser muito sincero. No escritório dele vi o Brasil branco, tradicional. Ele era simpático, não nego. Mas disse isso com tanta sinceridade...

Revista Raça - E o quanto dessas pessoas o senhor encontrou?
Doudou Diène - Uma minoria, mas uma minoria que ocupa posições importantes.

Revista Raça - E quanto às ações afirmativas que o senhor citou?
Doudou Diène - As ações afirmativas são a única maneira de corrigir as injustiças. É a única forma de se trazer igualdade em um país com uma discriminação histórica tão profunda como a brasileira. Populações inteiras foram marginalizadas, apesar de sua competência ou qualidade, por conta de sua raça ou etnia. É preciso que haja ação afirmativa para corrigir essa injustiça tão forte. A ação referida deveria ser ampliada a outros setores da sociedade e não apenas à universidade. Vou aconselhar para que elas sejam estendidas para o plano político e também para o serviço público. Os partidos precisam ter opções de candidatos das comunidades. Depois, o próprio sistema democrático resolve se os elege ou não.

Revista Raça - As ações afirmativas devem se restringir à esfera pública?
Doudou Diène - Eu vou propor a discriminação positiva na escolha de postos públicos, mas também na iniciativa privada. Claro que isso não deve ser imposto ao setor privado, que deve adotar programas de diversidade em troca de incentivos fiscais ou mesmo reconhecimento.

Revista Raça - O senhor já disse que a globalização é a anulação de culturas por outras. Mas como o senhor vê a questão do hip hop, que surgiu nos Estados Unidos, mas é um elemento de expressão de grupos, não somente negros, em vários países do mundo?
Doudou Diène - Eu creio que há manifestações que vêm da mesma experiência histórica. O hip hop nasceu na periferia das grandes cidades norte-americanas como uma expressão de revolta cultural e popular que se tornou universal. É normal que seja assim e que seja apropriada por jovens de outros continentes e países. O hip hop, a capoeira e outras manifestações possuem a mesma potência cultural e crítica.

Revista Raça - Como o senhor avalia as políticas de combate ao racismo no Brasil em relação a outros países da América Latina?
Doudou Diène - O Brasil, nesse ponto, vai muito além da Colômbia e, ao mesmo tempo, como aqui os negros são 40% da população, essas políticas são mais vistas. Muitos países ainda não reconhecem estruturas de racismo. A igualdade no Brasil é uma condição para que o país se torne uma grande potência mundial. 

Artigo publicado na Revista raça, in /http://racabrasil.uol.com.br/Edicoes/93/artigo12649-1.asp/, acesso em 17 de fevereiro de 2012.

12 de fevereiro de 2012

A coragem de dizer não

Foto histórica de um homem que se recusou a fazer a saudação nazista cai na internet e faz sucesso nas redes sociais.



por Felipe Sales.

Contrariando a atração à frivolidade das mensagens virais que tomam a internet, uma antiga foto de um homem que se recusou a fazer o cumprimento nazista se espalha pelo Facebook e faz sucesso na rede mundial de computadores. Enquanto dezenas de pessoas saúdam o Terceiro Reich, o homem permanece de braços cruzados e com um semblante de desdém.
A imagem foi feita em 1936 – em plena Alemanha Nazista – no Porto de Hamburgo, onde a multidão se aglomerava para assistir ao lançamento de um navio militar. O cidadão se chamava August Landmesse e era operário do estaleiro de Hamburgo. Apesar de ter ingressado no Partido Nazista em 1931, ele foi expulso em 1935 por ser casado com uma judia. A união lhe valeu duas filhas e a prisão por “desonrar a raça ariana”. Em 1941, August foi libertado e enviado à guerra. Em pouco tempo no campo de batalha foi dado como desaparecido em combate e declarado morto. Já a mulher de August teria sido presa pela Gestapo, a polícia secreta nazista, e depois desaparecido.
A história veio à tona apenas em 1991, quando August foi identificado. Ao ver a foto num jornal alemão, Irene, uma de suas filhas, o reconheceu. Enquanto sua irmã foi morar com a avó materna, Irene foi enviada a um orfanato e depois adotada. Em 1996, ela escreveu um livro contando a história da família.
A imagem, que já foi curtida quase 100 mil vezes e compartilhada outras 40 mil, foi publicada no último sábado (dia 4) na página do Facebook do movimento Senri No Michi – uma organização criada após o terremoto e o tsunami de 2011 do Japão, com o objetivo de divulgar ações de caridade.