12 de julho de 2012

E quanto vive?


Pablo Neruda
Tradução de Bruno Camargo

E quanto vive o homem, por fim?
Vive mil dias ou somente um?
Uma semana ou vário séculos?
Por quanto tempo morre o homem?
O que quer dizer ''Para sempre''?

Preocupado com essas coisas decidi
esclarecer as coisas.

Busquei os sábios sacerdotes,
os esperei depois do rito,
os vi quando saiam,
a visitar a Deus e ao Diabo.

Se aborreceram com minhas perguntas.
Eles tampouco sabiam muito,
eram só administradores.

Os médicos me receberam,
entre uma consulta e outra,
com um bisturi em cada mão,
saturados de aureomicina,
ocupados todos os dias.
Segundo soube como me falaram
o problema era como segue:
nunca morreram tantos micróbios,
toneladas deles caíam,
mas os poucos que ficaram,
se mostraram perversos.

Me deixaram tão assustado,
que busquei os coveiros.
Fui aos rios onde queimam
grandes cadáveres pintados,
pequenos mortos ossudos,
imperadores revestidos,
por escamas aterradoras,
mulheres esmagadas de repente,
por uma explosão de raiva.
Eram bancários de defuntos,
e especialistas cinzentos.

Quando chegou minha oportunidade,
os fiz umas tantas perguntas,
eles me ofereceram me queimar,
era tudo que sabiam.

No meu país os coveiros,
me contestaram, entre bebidas:
''-Busque uma moça robusta,
e deixe de besteiras''.

Nunca vi pessoas tão alegres.
Cantavam levantando o vinho
pela saúde e pela morte.
Eram grandes fornicadores.

Voltei para minha casa mais velho
depois de recorrer ao mundo.
Não pergunto nada a ninguém.
Mas sei cada dia menos.

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